Em uma medida que causou forte repercussão no meio acadêmico e diplomático, o governo do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, notificou oficialmente a Universidade de Harvard no dia 22 sobre a revogação de sua autorização para receber estudantes estrangeiros. Caso a universidade não atendesse às exigências da administração em até 72 horas, novos alunos internacionais seriam impedidos de ingressar, e os já matriculados perderiam seu visto de estudante, a menos que se transferissem para outra instituição.
Harvard reagiu imediatamente. No dia seguinte, 23, a universidade apresentou uma ação judicial contra o governo na Corte Federal de Massachusetts, acusando a decisão de ser ilegal e arbitrária. A corte aceitou o pedido e determinou, no mesmo dia, a suspensão temporária da revogação.
O embate ocorre em meio a um cenário de conflito ideológico crescente entre o governo Trump e grandes instituições acadêmicas, como Harvard e outras universidades da Ivy League. A administração republicana vem alegando que estas instituições estão “se inclinando demais à esquerda” e incentivando o antissemitismo, especialmente por meio de protestos e manifestações em seus campi.
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Em abril, como retaliação por Harvard ter se recusado a revisar seus programas acadêmicos, o governo Trump congelou mais de 20 bilhões de dólares em subsídios federais à universidade – cerca de 2,9 trilhões de ienes. Agora, ao mirar nas mensalidades pagas por estudantes internacionais – uma fonte relevante de receita –, o governo busca impor pressão econômica e simbólica, elevando ainda mais a tensão política.
De acordo com dados oficiais da própria universidade, Harvard possui cerca de 6.800 estudantes internacionais, o que representa aproximadamente 30% de todo o corpo discente. Entre eles, cerca de 100 são japoneses.
Durante coletiva no Japão, o secretário-chefe do Gabinete, Yoshimasa Hayashi, declarou em 23 de abril que o governo japonês irá dialogar com autoridades americanas para proteger os interesses dos estudantes japoneses, reforçando que medidas diplomáticas serão tomadas para minimizar qualquer impacto.
Em carta enviada à universidade, o secretário de Segurança Interna dos EUA, Alejandro Mayorkas, destacou que “aceitar estudantes estrangeiros é um privilégio” e exigiu total cooperação com as diretrizes da administração. Entre os pedidos mais polêmicos, está a entrega de dados dos últimos cinco anos sobre estudantes envolvidos em protestos ou atividades ilegais nos campi.
A exigência foi interpretada por acadêmicos e juristas como uma ameaça à liberdade de expressão e à autonomia universitária.
A resposta da universidade não tardou. Em nota oficial, o presidente da instituição, Alan Garber, declarou que Harvard continuará acolhendo estudantes e pesquisadores de mais de 140 países e que lutará contra medidas que prejudiquem a diversidade e a integridade do ambiente universitário.
Garber classificou a atitude da administração Trump como “ilegal e inaceitável”, e reafirmou que a universidade já havia processado o governo anteriormente, em abril, por conta do congelamento dos recursos federais.
Durante entrevista, o secretário Mayorkas reforçou que “isso é um alerta para todas as universidades”, indicando que outras instituições também podem ser alvo de restrições semelhantes se não se alinharem às exigências políticas da Casa Branca.
Essa crise entre governo e universidades traz à tona um debate delicado sobre autonomia acadêmica, liberdade de expressão e políticas de imigração educacional, com consequências diretas para milhares de jovens ao redor do mundo que buscam formação nos Estados Unidos.
Fonte: Yahoo Japan
Foto: Reprodução