Narrativas que retratam o Japão como uma nação exclusivamente para japoneses e que colocam estrangeiros como ameaças à ordem social estão ganhando espaço no discurso público, na internet e até em campanhas eleitorais. Para o escritor e jornalista investigativo Kōichi Yasuda, o avanço desse revisionismo histórico está intimamente ligado ao racismo estrutural que persiste na sociedade japonesa.
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Em entrevista à agência Kyōdō Tsūshin, como parte da série especial dos 80 anos do pós-guerra, Yasuda—autor do livro Terremoto e Massacre 1923–2024, que trata do assassinato em massa de coreanos após o Grande Terremoto de Kantō—relata suas observações recentes sobre o aumento da discriminação contra grupos como os curdos que vivem em cidades como Kawaguchi e Warabi, na província de Saitama.
Segundo o escritor, grupos autodenominados “vigilantes” têm aparecido nessas regiões promovendo ações de intimidação e discurso de ódio, chegando a utilizar expressões que remetem à “limpeza étnica”. Para ele, o uso naturalizado do termo “jikeidan” (autodefesa/vigilância) sem reflexão histórica é sintomático de um país que não incorporou devidamente em sua consciência coletiva as consequências das violências do passado.
“Aqueles que negam a história ou a distorcem fazem parte de um movimento revisionista impulsionado pela internet”, explica Yasuda. Segundo ele, plataformas digitais permitem que qualquer pessoa se torne emissor de conteúdos, inclusive informações falsas, alimentando o medo e a intolerância com base em eventos isolados amplificados artificialmente.
O caso dos curdos se soma a outras formas de preconceito persistente, como contra os zainichi coreanos (residentes coreanos no Japão). Yasuda lembra que esses grupos foram alvo de mentiras sistemáticas, como alegações falsas de privilégios no acesso à assistência social ou à educação, o que se espalhou com facilidade nas redes sociais.
A narrativa de que “o Japão é dos japoneses” ou de que “os estrangeiros estão sendo favorecidos” gera uma sensação confortável para quem busca reafirmar sua identidade em tempos de crise social e econômica. “Para que os japoneses se sintam confiantes, criam-se histórias agradáveis ao ego nacional, às custas da exclusão de minorias”, afirma.
O escritor defende que a reinterpretação da história é parte legítima do processo historiográfico, mas alerta: “O que estamos vendo não é uma reinterpretação com base em evidências, e sim uma negação da história, substituída por uma narrativa fictícia e nacionalista.”
Fonte: Yahoo Japan
Foto: Reprodução

