Enquanto o Japão sofre com a escassez de arroz e os preços seguem em alta, cerca de 3 toneladas de arroz são descartadas todos os dias, mesmo estando, em muitos casos, ainda próprios para o consumo. O dado revela uma contradição grave no sistema alimentar do país, onde o desperdício coexiste com a preocupação sobre oferta e demanda.
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A empresa de reciclagem alimentar Japan Food Ecology Center, localizada em Sagamihara (Kanagawa), recolhe alimentos não utilizados de cerca de 200 estabelecimentos comerciais, como supermercados, fábricas de alimentos e lojas de conveniência nas regiões de Kanagawa e Tóquio. Diariamente, são recebidas cerca de 40 toneladas de alimentos, sendo 3 a 4 toneladas apenas de arroz — muitos ainda em condições de serem consumidos.
Produção em excesso para evitar “rupturas”
Segundo o presidente da empresa, Takumi Takahashi, muitas fábricas produzem arroz em excesso para evitar a falta de produtos como bentôs e onigiris nas prateleiras. O que sobra acaba sendo descartado antes mesmo de chegar ao consumidor. Isso gera um volume considerável de alimentos desperdiçados ainda no nível da produção, sem que sequer entrem na cadeia de vendas.
De desperdício a ração para suínos
O arroz descartado, assim como outros alimentos excedentes, passa por um processo de reaproveitamento. Ele é triturado, esterilizado e fermentado até se transformar em ração líquida para suínos. Essa ração é encaminhada a fazendas, e os porcos alimentados com ela se tornam parte de uma linha de carne suína de alta qualidade, conhecida pela textura macia.
Apesar dos esforços da empresa, Takahashi ressalta que a quantidade reaproveitada representa apenas uma fração do desperdício total no país. A maior parte dos alimentos descartados é incinerada pelos municípios, com custo pago via impostos.
Takahashi destaca que o combate ao desperdício depende também do consumidor:
“Enquanto acreditarmos que é possível comprar tudo, a qualquer hora e por baixo preço, o desperdício continuará. É preciso reconhecer o valor dos alimentos e o esforço envolvido em sua produção.”
O alerta é claro: sem mudanças nos hábitos de consumo e produção, o Japão continuará jogando fora alimentos enquanto lida com escassez — um paradoxo que afeta não apenas a economia, mas também o meio ambiente e a ética alimentar.
Fonte: Yahoo Japan
Foto: Reprodução