Enquanto no Japão cresce a tendência de incentivar idosos a devolverem voluntariamente suas carteiras de motorista por questões de segurança, o Brasil mostra uma realidade bem diferente — e surpreendente. No estado de Minas Gerais, um homem de 102 anos não apenas mantém sua rotina ao volante como acabou de renovar sua carteira de motorista com sucesso.
Ranulpho Custódio Alves, nascido em 27 de maio de 1923, obteve sua primeira habilitação há mais de 65 anos e, até hoje, dirige diariamente por conta própria. Mesmo com a possibilidade de contratar um motorista particular, ele prefere seguir no controle de seu veículo, um caminhonete com a qual se locomove entre sua fazenda, a cidade e a casa da família. “Não gosto de esperar. Quando peço para me buscarem, sempre se atrasam”, afirmou com convicção.
Procurando por novas oportunidade de empregos no Japão? Clique aqui!
Em abril deste ano, Ranulpho passou por todos os exames exigidos pelo Detran-MG (Departamento de Trânsito de Minas Gerais), incluindo avaliação médica e cognitiva, e recebeu um novo documento com validade de três anos. Segundo os médicos, sua lucidez, reflexos e controle emocional estão preservados, embora recomendem o uso de óculos ao dirigir. Ao receber sua nova habilitação, ele declarou sorrindo: “Daqui a três anos, volto para renovar de novo”.
Esse caso chamou a atenção da imprensa brasileira e foi amplamente repercutido por portais como o G1. Mais do que uma curiosidade, ele se tornou símbolo de autonomia, envelhecimento ativo e dignidade na velhice. Ranulpho, que tem sete filhos e já é bisavô e tataravô, segue tomando decisões no dia a dia, cuidando da administração da propriedade rural onde vive e se mantendo ativo física e mentalmente.
O Brasil, diferente do Japão, não estabelece um limite máximo de idade para dirigir, mas obriga motoristas com 70 anos ou mais a renovar a carteira a cada três anos, com exames de saúde obrigatórios. Só no estado de São Paulo, por exemplo, há mais de 400 motoristas com 100 anos ou mais ainda com habilitação válida. E em estados como o Rio de Janeiro, há casos como o de Paulo dos Santos Leite, que segue atuando como caminhoneiro aos 90 anos.
Esses dados mostram que, embora o debate sobre os riscos associados à direção por idosos seja legítimo, a idade, por si só, não é um fator definitivo de incapacidade. Especialistas em trânsito e saúde no Brasil defendem que, com avaliações criteriosas e apoio médico, muitos idosos podem continuar dirigindo com segurança — desde que respeitados os limites físicos, cognitivos e legais.
O caso de Ranulpho levanta reflexões importantes sobre como diferentes sociedades encaram o envelhecimento. No Japão, onde a população idosa cresce rapidamente e os acidentes de trânsito envolvendo idosos têm gerado preocupação, há forte pressão para que condutores mais velhos entreguem voluntariamente suas carteiras. Já no Brasil, embora o problema também exista, há espaço para uma abordagem mais individualizada e centrada na capacidade real da pessoa — e não apenas na idade cronológica.
A história desse motorista centenário é mais do que uma curiosidade; é um convite a repensarmos os conceitos de autonomia, saúde e dignidade no processo de envelhecer. Afinal, em um mundo que envelhece cada vez mais, encontrar o equilíbrio entre liberdade individual e segurança coletiva é um dos grandes desafios do nosso tempo.
Fonte: Yahoo Japan
Foto: Reprodução