À medida que os partidos conservadores no Japão elevam o tom sobre a necessidade de endurecer políticas migratórias, um silêncio constrangedor paira sobre aqueles que são o alvo direto desses discursos: os próprios estrangeiros que vivem, trabalham e sustentam o país.
Com mais de 3,7 milhões de residentes estrangeiros, muitos deles inseridos no mercado de trabalho em setores cruciais como a saúde, limpeza, construção e agricultura, o chamado “problema dos estrangeiros” ganha força no debate político — especialmente durante as eleições para o Senado, marcadas para o dia 20. Mas o que pensam os que vivem essa realidade?
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“Fomos feitos de bode expiatório”
Um cuidador indonésio de 30 anos, que trabalha em um lar de idosos em Tóquio, conta que, durante um plantão noturno, viu na TV um discurso político com o slogan “Japão em primeiro lugar”. Curioso, pesquisou mais sobre o tema e encontrou uma reportagem da mídia indonésia, mencionando como um novo partido japonês estava ganhando apoio ao adotar políticas contra estrangeiros.
“Na hora, senti que fomos feitos de bode expiatório”, disse ele.
Ele já tinha visto esse tipo de estratégia em seu país: em tempos de crise, líderes políticos desviam a atenção do povo ao culpar minorias. “Entendo que algumas pessoas fiquem com medo com o aumento de estrangeiros. Mas colocar todos no mesmo saco, como se fôssemos inimigos, é injusto”, desabafa. “Pagamos impostos, seguimos as regras e cuidamos da população. Só queremos ser tratados com dignidade.”
Uma rotina de sacrifício e empatia
Na noite anterior à entrevista, esse mesmo cuidador havia trabalhado das 22h às 7h, sozinho, cuidando de 20 idosos. Durante a madrugada, atende chamados como “quero ir ao banheiro”, “me dê água”, “estou com dificuldade para respirar”. Prioriza aqueles com maior risco de queda e se desculpa com os que precisam esperar. “Desculpa por fazer você esperar, já estou indo”, repete noite após noite.
Para pacientes com demência que pedem para “ir pra casa”, ele explica com calma que é madrugada e que irão no dia seguinte. Além disso, faz rondas, troca fraldas, muda a posição dos acamados para evitar escaras, organiza roupas e registra todas as atividades. Muitas vezes, não consegue dormir nem por alguns minutos.
Quando um idoso morre, ele participa do “angel care”, ritual onde o corpo é limpo, vestido e preparado junto da família, com cuidado e respeito.
Entre a exclusão política e a responsabilidade social
A realidade desses trabalhadores estrangeiros, que sustentam parte da sociedade japonesa, contrasta com os discursos que os retratam como ameaça. “Quem realmente se prejudica quando nos atacam? Os próprios japoneses, que dependem do nosso trabalho”, questiona.
Diante de uma sociedade em envelhecimento acelerado e com escassez de mão de obra, muitos se perguntam: o problema está nos estrangeiros ou em como o país os trata?
Fonte: Yahoo Japan
Foto: Reprodução

